O Projeto OCW-USP e o INCLUSP
Leonildo Correa - 28/07/2007
Uma das deficiências do Programa de inclusão criado pela USP reside no alcance das ações. A maioria dos projetos, dentro desse programa, tem alcance limitado e restrito, surtindo pouco efeito prático na solução do problema das desigualdades. Por exemplo, aumentar a nota de um aluno de escola pública em 3% é irrelevante, pois a defasagem de conhecimento desse aluno não é de apenas 3%. Dar isenção de taxas no vestibular, também é irrelevante, pois o problema não é o pagamento de taxa, mas sim a carência de ensino público de qualidade. Criar um cursinho vestibular gratuito piora ainda mais a coisa, pois gera, antes da chegada no vestibular, uma outra exclusão, a do aluno que não conseguiu fazer o cursinho da USP, sem contar que esse cursinho atenderá apenas uma parcela diminuta dos vestibulando de baixa renda.
Portanto, os projetos do INCLUSP constituem pequenas gotas d'agua lançadas em um deserto de desigualdades. Gotas que atingem a areia e evaporam rapidamente, não resolvendo o problema da falta de água. É preciso fazer uma coisa grande. É preciso que o INCLUSP seja grande e atinja toda a sociedade e dê possibilidades para todas as pessoas, atacando o problema das desigualdades na raiz, simultaneamente, de vários ângulos.
O Projeto OCW-USP do Instituto OCW Br@sil tem essa capacidade. É um projeto grande que possibilita à Universidade de São Paulo utilizar a sua matéria-prima de melhor qualidade, o conhecimento, contra as desigualdades que assolam a educação e as regiões brasileiras.
A disponibilização gratuita do conteúdo de todas as disciplinas de todos os cursos da USP, incluindo textos, som e vídeo, assim como todos os demais materiais relacionados a essa disciplina, constituirá o maior programa de inclusão já promovido por uma Universidade Pública brasileira. A USP não vai dar o seu diploma para todo os brasileiros. Vai dar, gratuitamente, algo maior do que isso: o conhecimento que ensina e transmite aos seus alunos em seus cursos. Os alunos que querem o diploma da USP continuam tendo que se submeter ao vestibular. Contudo, as pessoas que querem só o conhecimento da USP, precisarão apenas acessar a internet para assistir às aulas e refazer os cursos, estudar os materiais, ouvir e ver os professores, etc.
Com isso, o INCLUSP não incluiu apenas os alunos de escolas públicas no seu vestibular, mas inclui todos os brasileiros nas salas de aula da USP, dando possibilidade de todos acessarem o seu conhecimento, aprenderam mais e melhor e, a partir disso, modificarem a realidade em que vivem. Não é o diploma da USP que transforma a realidade. Não é o diploma da USP que faz de uma pessoa comum um líder, de um estudioso um intelectual, de um estudante um engenheiro, etc. É o conhecimento que transforma a pessoa. É a ação com conhecimento que transforma a realidade. O diploma é apenas uma confirmação de que a pessoa tem conhecimentos e foi treinada por essa ou aquela instituição. O diploma é isso. Nada mais do que isso.
Inclusive eu penso que se uma pessoa tem um profundo conhecimento do assunto, depois de ser aprovada em todas as provas necessárias e fazer todos os estágios exigidos, deveria receber o diploma, independentemente de ter feito cursos, aulas, seminários, etc. Penso que as pessoas deveriam ter a liberdade para escolher entre ter aulas com professores em sala, ter aulas com professores pela internet, ou estudarem sozinhas sem professor. Não só isso, considero que deveria existir um órgão educacional nacional que verificasse conhecimentos e emitisse diplomas.
Por exemplo, o aluno autodidata vai até o órgão e diz: "Tenho todos os conhecimentos para ser bacharel em direito. Portanto, gostaria de fazer as provas." O órgão responde: "Em tal dia, tal horário, você deverá fazer as provas do primeiro ano. Se passar, em tal dia fará as do segundo. Se passar, em tal dia fará as do terceiro, etc." E, uma vez aprovado em todas as provas, não há nenhuma razão para que esse aluno não receba o diploma de bacharel em direito. E, depois que receber o diploma, ele se submeterá às provas da OAB. Continuando o ciclo atual.
Não entendo e acho uma estupidez obrigar o aluno a ficar cinco anos estudando para receber o diploma de alguma coisa. Para certas pessoas cinco anos é pouco, precisariam de vinte. Para outras cinco anos é muito, precisariam de apenas um. Tem moleque de quinze anos que sabe mais do que muitos engenheiros e analistas de sistema, inclusive consegue invadir os servidores do Pentágono, nos EUA, com os olhos fechados. Não podemos obrigar todo mundo a ficar o mesmo tempo estudando, assim como não podemos submeter todos os alunos ao mesmo método de avaliação.
O que importa é o conhecimento que a pessoa adquire. O modo como ela adquiriu esse conhecimento é irrelevante, completamente irrelevante para a aquisição do diploma. Contudo, nesse momento, essa idéia é avançada demais. A maioria das autoridades públicas universitárias e dos docentes ainda estão com a cabeça no século passado e consideram que a única forma possível de obter aprendizagem e diplomas é ficando sentado em carteiras de madeira enfileiradas, durante vários anos, ouvindo várias pessoas falarem. Meu Deus do Céu, precisamos evoluir !!! Não podemos ficar amarrados a costumes de séculos anteriores. Certamente, em um futuro próximo os métodos de ensino de hoje serão considerados ridículos.
Mas, voltando ao assunto, nós do Instituto OCW Br@sil planejamos também estender o Projeto OCW-USP um pouco além das disciplinas da Universidade. Queremos englobar também as disciplinas, os conteúdos e os materiais do cursinho da USP para estudantes de baixa renda e de escolas públicas. Assim, esse cursinho pré-vestibular deixará de atender apenas uma pequena parcela de eleitos e chegará a todos os vestibulandos, a todas as escolas públicas do país. Isso irá globalizar o INCLUSP atual que está restrito a uma centena de alunos.
Logo, depois do Projeto OCW-USP, todos os estudantes secundaristas brasileiros terão acesso gratuito ás aulas ministradas no cursinho da USP, assim como acesso aos materiais utilizados nessas aulas. Essa ação é justa. Ela democratiza o conhecimento, socializa os saberes e dá oportunidades iguais para todos, sejam de escolas públicas, sejam de escolas particulares. Bastará apenas o estudante ter acesso a um computador com internet para fazer o cursinho da USP e depois prestar o vestibular.
Contudo, ainda há o problema do computador com acesso a internet. A primeira solução é o governo implantar computador com internet em todas as escolas públicas rapidamente, assim como criar cybercafés para estudantes de baixa renda.
Já a nossa solução temporária, que pode ser implementada pelo Instituto OCW Br@sil, é gravar as aulas (MP3 e Vídeo) em CDs que possam ser lidos em aparelhos de DVDS comuns, distribuindo esses CDs e DVDs para todas as escolas e bibliotecas públicas do país, assim como enviando, via postal, para os alunos que solicitarem cópias, etc. Com isso aumentamos, exponencialmente, o alcance e o sucesso do INCLUSP.
Além disso, o aluno poderá receber as apostilas em arquivos textos nos CDs, podendo imprimir esse material, etc. Enfim, o objetivo do Instituto OCW Br@sil é democratizar o conhecimento e socializar os saberes. É dar oportunidade para quem não tem. É construir e implementar mecanismos e soluções criativas, inovadoras, que reduzam as desigualdades educacionais e regionais, impulsionem o Brasil rumo ao desenvolvimento e ao primeiro mundo.
E o melhor de tudo, todas as ações do Instituto OCW Br@sil, todos os projetos, são open e free. Enfim, tudo isso está sendo detalhado para ser apresentado à Pró-Reitora de Graduação da USP, Prof. Selma Garrido, e ao Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nas audiências que solicitamos via ofício.
Nós criamos um Instituto, o Instituto OCW Br@sil, para ser um mecanismo rápido, direto e eficiente contra as desigualdades, as exclusões e as privações. E esses projetos serão implementados com o máximo de qualidade possível, com a qualidade USP.
A USP e a inclusão social
Fonte: A Universidade e as Profissões
Como instituição pública de Ensino Superior, a Universidade de São Paulo é considerada uma referência significativa para a sociedade brasileira. As atividades de ensino, pesquisa e extensão que realiza contribuem significativamente para o desenvolvimento social, cultural e econômico do país, produzindo conhecimentos e preparando cidadãos para desempenhar papel de liderança intelectual e profissional.
Reconhecendo a desigualdade social que marca a sociedade brasileira, a USP pretende contribuir para a sua superação por meio do Programa de Inclusão Social (Inclusp), que articulará excelência acadêmica, autonomia universitária e inclusão social. Por meio desse Programa, a USP dará organicidade e visibilidade às ações que já vêm sendo desenvolvidas nas suas diversas Unidades e instâncias, articulando-as na forma de uma política institucional.
Tendo como foco o aluno do Ensino Médio da escola pública, o Inclusp articulará um conjunto de ações, antes, durante e após o processo seletivo de ingresso na Universidade, com a finalidade de democratizar o acesso dos segmentos menos favorecidos da sociedade aos seus cursos, sem comprometimento do critério de mérito como legitimador desse acesso.
Objetivos do Programa
* Ampliar as probabilidades de acesso dos estudantes egressos da escola pública;
* Atuar positivamente na superação das barreiras educacionais que dificultam esse acesso;
* Apoiar as escolas públicas, seus professores e alunos mediante ações especializadas;
* Incentivar a participação dos egressos da escola pública no processo seletivo de ingresso na Universidade, por meio de medidas de apoio didático-pedagógico e de divulgação;
* Apoiar, com ações específicas, a permanência dos alunos no curso superior.
Ações do Programa
a) antes do ingresso na Universidade
Dadas as situações objetivas de desigualdade social que penalizam os estudantes que cursam o Ensino Médio na rede pública, a ampliação das possibilidades de acesso desses alunos na USP e a garantia de sua permanência na Universidade requerem ações sistemáticas de apoio ainda na fase anterior à sua participação no vestibular.
Para tanto, o Inclusp implementará mecanismos capazes de estimular, favorecer e respaldar a formação geral e o preparo dos estudantes do Ensino Médio público para o vestibular. Assim, a partir do núcleo central de atuação da Universidade, o Inclusp buscará intensificar um relacionamento sistemático e permanente com a escola básica mantida pelo poder público, visando:
* Constituir canais ágeis e eficientes de comunicação, para viabilizar relacionamento mais estável e fecundo entre a Universidade e o Ensino Médio público;
* Sinalizar às escolas de Ensino Médio diretrizes que favoreçam a formação geral e o preparo específico dos estudantes para o vestibular;
* Manter a sociedade mais informada sobre este Programa de Inclusão Social, bem como sobre os conteúdos programáticos do exame vestibular da Universidade;
* Tomar os Parâmetros Curriculares Nacionais como uma das referências para a elaboração desses conteúdos, visando exercer papel indutor junto às escolas públicas no seu desenvolvimento curricular.
b) no momento do ingresso
O Inclusp pretende identificar estudantes que tenham condições de obter maiores benefícios com o curso superior, independentemente de sua história social e econômica.
O Programa prevê um Sistema de Pontuação Acrescida para os alunos que cursaram integralmente o Ensino Médio na rede pública que, mesmo em condições desfavoráveis, se aproximaram da nota necessária para aprovação no vestibular, revelando ter potencial para o Ensino Superior. Com o acréscimo de 3% na nota, esses candidatos poderão atingir a pontuação requerida para o ingresso.
O Inclusp prevê, também, a instituição do Sistema de Avaliação Seriada para escolas de Ensino Médio da rede púbica que manifestem interesse de participar do processo.
c) após o ingresso
A política de inclusão social da USP pretende oferecer várias formas de apoio aos alunos ingressantes, para que possam completar com êxito sua trajetória universitária. Um Programa de Bolsas será especialmente criado para tal fim, incluindo as já existentes. Adicionalmente, visando à ampliação da formação humanística dos alunos, serão empreendidas ações para divulgação, criação e participação em eventos artísticos e culturais, integrando orquestras, corais, cinemateca, museus e outros institutos especializados. Atenção especial será dada às ações culturais diretamente voltadas aos alunos que residam nas moradias estudantis da Universidade na capital e no interior.
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