sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O sistema, a revolução e a violência

Leonildo Correa -- 27/09/2007 -- Você acha que uma pessoa semi-analfabeta que ganha um salário mínimo trabalhando 12 horas por dia conseguirá estudar e subir na vida ? Você acha que uma pessoa que ganha um salário poderá construir alguma coisa, sairá da favela, comprará uma casa, etc ? Você acha que um reajuste de 100% no salário mínimo mudará alguma coisa ? O salário mínimo é uma espécie de escravidão, ele mantém a pessoa em estado de sobrevida, vegetando, ou melhor trabalhando, e não a deixa evoluir e nem crescer. Se esse assunto for desenvolvido na favela, você sabe o que acontece ?

Eu me preocupo com isso porque eu vejo claramente o que está sendo construído, porque eu faço parte dessa realidade dos grupos oprimidos, excluídos e explorados, porque eu serei uma das pessoas chamadas para liderar o exército das periferias, o exército que se levantará contra o sistema e contra os grupos dominantes. Certamente, não serei o único, outros, que estão nas sombras, irão se levantar para destruir o mal que domina a sociedade... E não ficará pedra sobre pedra...

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O dicionário aurélio apresenta várias definições para o termo "revolução". Desses termos três podem ser destacados. O primeiro diz que revolução é uma "Transformação radical e, por via de regra, violenta, de uma estrutura política, econômica e social". O segundo diz que esse termo significa "Qualquer transformação violenta da forma de um governo". E o último considera revolução como uma "Transformação radical dos conceitos artísticos ou científicos dominantes numa determinada época".

Dessas definições concluímos que a revolução é, necessariamente, uma transformação radical, assentada no uso sistemático da violência. Isso porque transformações radicais atingem o cerne da estrutura dominante e mudanças nesse âmbito só ocorrem com o uso da violência.

E a violência jamais será afastada da natureza humana e da sociedade. A violência faz parte da estrutura social. É um caminho que se abre para mudança e para a transformação quando a negociação e a conversa não funcionam. Isso significa, como diz V no filme V de Vingança, que a violência pode ser usada para o bem. A violência é usada para o bem quando o fim que a justifica é um bem e não um mal.

O sistema de exclusão vigente no Brasil prepara e treina os futuros revolucionários. A revolução está nas periferias, está adormecida e em fase de crescimento. Todos que estão nas periferias possuem uma revolta contida no peito e uma vontade louca de arrebentar o sistema e os poderosos que o controlam. Precisam apenas de um lider, de armas, um discurso e uma direção.

Há um ódio social se desenvolvendo nas periferias. Um ódio uniforme contra os ricos, contra os empresários, contra os políticos e contra os intelectuais hipócritas. Um ódio que vai explodir numa violenta guerra civil dos pobres contra os ricos, da maioria oprimida, caída, excluída e explorada contra os grupos dominantes parasitas.


O ÓDIO SOCIAL


O ódio social que brota de grupos contra a coletividade ou da coletividade contra grupos e minorias não nasce da noite para o dia e nem surge de um fato isolado. Esse ódio social deriva de ações constantes de opressão, tirania e violações que se repetem ao longo do tempo.

O ódio individual vai até a pessoa do inimigo e pára, já o ódio social vai além, ultrapassa o indivíduo, alcançando seus ascendentes, descendentes, colaterais, assim como sua raça, seu grupo, seus amigos, etc. O ódio individual se deleita no sofrimento do inimigo, mas não aceita que outros sofram no seu lugar, ou seja, que outro assuma o lugar do inimigo no martírio, seja um filho, um parente ou um conterrâneo. Já o ódio social tem um grupo inteiro como inimigo e se deleita no sofrimento de quaisquer um deles, seja um adulto ou uma criança, seja uma mulher ou um velho. Todos são inimigos. Todos merecem o castigo que recebem. Todos devem pagar pelo mal que ocasionaram.

Somente a banalidade do mal não explica o holocausto nazista. A máquina totalitária necessita de um elemento a mais para ser acionada e movimentada com eficiência. É preciso que exista uma cola entre as partes do sistema, um cimento que ligue as coisas e faça todos agirem no mesmo sentido. Na física seria a força que orienta os vetores na mesma direção. Esse algo a mais é justamente o ódio. Não o ódio individual, mas o ódio social, o ódio de grupos e de classe, construído a partir das mais diversas motivações: religião, diferenças físicas e sociais, etc.

As guerras movidas pelo ódio social têm o extermínio como objetivo... E a meta não é fazer prisioneiros de guerra, mas sim exterminar todos, sejam soldados ou civis.

A máquina totalitária possui diversas peças, porém essas peças, mesmo coladas e ligadas, permanecem inerte, É o ódio social que a movimenta. E esse ódio extravasa na violência de um grupo contra o outro, de uma maioria contra uma minoria, ou de uma minoria contra uma maioria. Assim, todas as metas e todas as forças do sistema se movimentam na direção de ações que extinguam completamente o objeto odiado.

Inegavelmente, Hitler era um grande orador, contudo seu discurso não surtiria nenhum efeito se não houvesse um ódio social pairando sobre a sociedade alemã contra os judeus. O que Hitler fez foi centralizar e canalizar o ódio que estava pronto para explodir, direcionando-o para a movimentação da máquina totalitária que havia sido, meticulosamente, montada. Se os alemães não odiassem socialmente o povo judeus, os discursos de Hitler, por mais inflamados que fossem, não teriam surtido nenhum efeito. O que Hitler fez foi falar o que todos queriam ouvir e mostrar o caminho para mudar as coisas.

Discursos só fazem efeito onde há uma motivação prévia naquele sentido. Se não houver motivação prévia, os discursos são inócuos. Por isso, no Brasil, o melhor discurso para se iniciar uma guerra é a questão social, a divisão entre ricos e pobres, as desigualdades... A motivação prévia já existe, basta apenas montar o discurso, fornecer as armas e mostrar o inimigo...

Os guetos da burguesia

A burguesia brasileira, ao invès de enfrentar e resolver os problemas sociais, afasta-se da realidade social, criando fortalezas e guetos fortemente protegidos. Assim, pensam os burgueses, podem continuar explorando e oprimindo sem nenhum problema, pois vivem isolados e protegidos do resto da sociedade e dos pobres que estão imersos em altos índices de desigualdades e lutando, um contra o outro, por um pedaço de pão.

Contudo, mesmo formando um gueto e criando fortaleza altamente protegida, os burgueses continuam dentro da realidade social. Pior, estão completamente cercados por ela. Quanto mais as desigualdades e a pobreza aumentam, maior é o risco dos guetos e das fortalezas serem invadidas e devassadas pelos oprimidos e excluídos, que acreditam que o paraíso está dentro do gueto.

Além disso, a constituição de guetos tornam a burguesia presa fácil da maioria oprimida e excluída, pois todos sabem onde estão concentrados e amontoados os burgueses. Todos sabem onde ficam os condomínios de luxos, os bairros nobres, os edifícios de alto padrão, etc.

Numa eventual guerra dos pobres contra os ricos os mísseis subirão das periferias para caírem nos guetos burgueses. As bombas voadoras, os lança foguetes, etc, estarão apontados para os locais onde a burguesia se isolou e se fechou para continuar explorando e oprimindo a maioria da população.

Dessa perspectiva se observa que a solução não é o isolamento e o afastamento dos grupos dominantes dos problemas sociais, assim como a construção de guetos e fortalezas inexpugnáveis não salva os opressores e tiranos da fúria dos oprimidos e excluídos.

Ninguém ganha com os altos indíces de desigualdades e pobrezas, pois a vantagem que se obtém hoje, explorando e escravizando, se perde amanhã quando as massas se levantarem para destruir tudo e todos que alimentaram a máquina de exclusão, opressão, injustiça e escravidão.

As mudanças atuais, que estão em andamento, são lentas e imperceptíveis. Tão imperceptíveis que todos acham que elas não existem. Logo, o ódio social continua se desenvolvendo e se alastrando. E, certamente, chegará um momento em que não será mais possível contê-lo ou segurá-lo. Chegará um momento em que a única forma de se aplacar o ódio social é promovendo um banho de sangue na sociedade. Para os ricos, tudo está bem... Para os pobres, uma guerra se aproxima e está prestes a explodir...

Notícias de uma Guerra Particular - Hélio Luz: ex-chefe de polícia do RJ







Hoje no Brasil, com dados do IBGE de 1996:

Elite -- Profissionais pós-graduados, empresários e altos administradores. -- 4,9%

Classe média alta -- Pequenos proprietários, técnicos com especialização e gerentes de grande empresa. -- 7,4%

Classe média média -- Pequenos fazendeiros, auxiliares de escritório -- e profissionais com pouca especialização. -- 13,3%

Classe média baixa -- Motoristas, pedreiros, pintores, auxiliares de serviços gerais, mecânicos, etc. -- 26,9%

Pobres -- Vigias, serventes de pedreiros, ambulantes e outros trabalhadores sem qualificação. -- 23,4%

Muito pobres -- Trabalhadores rurais, bóias-frias, pescadores, peões de fazendas, catadores urbanos,etc. -- 24%

Para saber mais:
http://www.ai.com.br/pessoal/indices/CLASSES.HTM


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